quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Transparência Intransponível?

- Foi como?
Eu pensava:
Eu não sei por que saio na sexta-feira. Às vezes fico imaginando que pode ser pelas meninas. Adoro freqüentar lugares estranhos. Mas defina estranho? O lugar só se torna estranho para as pessoas que nunca vão a esses lugares, na segunda vez que aparecem por lá, já são conhecidos dos garçons, as mulheres os chamam por apelidos carinhosos do tipo: grandão, gatinho, delícia, e por aí vai. Penso também que pode ser para espairecer, sair daquele famigerado MSN, do Orkut, parar de escrever poesia no meu blog inútil-quase-nunca-visitado. É... Hoje em dia parece que quando compramos um byte, fazemos um site, e assinamos a velox, cada filigrama de você está sendo usado a serviço da solidão. E ainda dizem que a internet é feita para unir as pessoas. Balela. Acho que em cada pixel da porra daquela tela é uma alma que aquele nerd de tridente roubou de nós. Hoje é assim, cada vez mais as coisas estão diminuindo. Quem é que leva um micro-system para um acampamento? É isso mesmo, ninguém. Todo mundo fica enfiado naquela merda de MP- não-sei-das-quantas. Tudo ficando menor: as coisas, os sentimentos, as pessoas, as frases. Até as frases? Um casal namora assim atualmente, com duas palavras: Já é? Já é. Pronto: Inicia-se uma boda de ouro. É foda. Imagine os netos desse casal na noite de Natal perguntando a eles como eles se conheceram:
-Vovô?
-Diz aí brother.
-Como foi que o senhor conheceu vovó?
-Foi assim... Eu cheguei para ela, estava tocando Aviões do forró, e cheguei para ela e disse: Já é? Ela olhou para mim e disse: Já é. Foi amor à primeira vista.
Patético. Eu sei que isso não é remorso, inveja, solidão, isso não é porra nenhuma, mas o que eu queria mesmo que acontecesse é que do nada... Assim... Na frente de uma banca de revista, alguém me notasse, e dissesse uma palavra que não escuto há muito tempo: oi. E acabasse de vez com essa minha transparência intransponível, para enfim dizer (e aí brother?) na noite de Natal para o meu neto. Mas do jeito que vai isso é só viagem de um cara só. E também eu não sei se daqui a alguns anos vai ter banca de revista, se vai ter menina (as meninas andam de mãos dadas nesses tempos) se vai ter neto. Enfim, vou arrumar um trabalho que é o melhor que eu faço. Era assim.
-E aí como foi?
Eu pensava:
Não faço questão de ir à praia aos domingos, nem de ir tomar uma cerva com os amigos num sábado à noite, o que me importa mesmo é a sexta-feira. Sexta-feira é um dia massa. Massa não por causa das meninas, dos lugares estranhos que freqüento, mas por causa dele. Às vezes acho que estou delirando, desde a infância tenho minha sexualidade definida, e sem medo de nada batia no peito e dizia: Eu gosto de mulher. É... Gosto de mulher. E minha mãe ficaria desapontada se eu não cumprisse -à risca- a tradição familiar. Mas semana passada aquele esbarrão que dei nele virou minha cabeça. Foi de propósito eu sei. E se não fosse daquele jeito? Como seria? Ele não me nota. Sempre de cabeça baixa. Adoro esse jeito dele. Nunca gostei de caras com esse perfil. Magrinho, óculos de armação preta, cabelo lisinho. Não queria dizer, mas vou: Meio EMO. Achava os EMO’S a escória do mundo, depois do esbarrão mudou fácil minha opinião. Que coisa estranha, senti vontade de ter um homem em meus braços, em cima de mim, falando todas aquelas sandices que os atores pornôs falam no ouvido daquelas vagabas. Ele é lindo, porém inacessível tenho que tentar outra coisa. Quem sabe um oi? Que coisa estranha eu gostando de homem? Nunca senti isso, mas tenho que dar a cara à tapa. Sei não, mas quero.
E depois:
Agora deu: Sozinho, liso, desesperado e com outro não na minha coleção de nãos nas entrevistas profissionais. Não. Outro não, não. Pode colocar aí escritor, em caixa alta e em negrito NÃO. Só falta agora virar bicha... É fogo. Mas está todo mundo virando? É foda. Que é isso, pensar em ser bicha já é viagem demais para uma só cabeça desesperada, e além do mais, seria uma decepção não manter – à risca- a tradição familiar: Gostar de mulher. Sabe de uma coisa: Eu preciso de uma mulher... Daquelas... De filme pornô... Falando e sussurrando aquelas cachorradas que elas dizem na cara dos tarados atores. É... Eu preciso de uma mulher, nem que seja de papel. Hum... é foda, nessa idade? Pois é,quem não tem Luana Piovanni caça com Gretchen mesmo. Vou ali à banca.
- Quem é Gretchen?
Decidi:
É hoje. Estou aqui nesse banco há um tempão e nada daquele gostosão passar. Tenho que saber se eu quero isso pra mim mesmo, se é bom, se vou achar estranho, se vou achar gostoso.
Lá vem ele. É agora. Vou lá. Levantei. Fui de encontro a ele.
-E depois?
-Disse oi.
-E ele?
-Já é.
-Foi assim mesmo vovó?
-Foi brother.
-Vamos cantar parabéns papai, afinal não é todo dia, principalmente nos dias de hoje, que alguém completa bodas de ouro.
-Pois é.

Hangner Correia
16/12/09

2 comentários:

  1. Adorei, você tem muito talento Hangner. É um cara inteligente e sabe bem usar as palavras, só cuidado com essa onda de bicha tá... Milhões de beijos! Gabriela de Paula

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  2. Valeu pelo comentário, mas esse "negócio de bicha" é só ficção !!!
    Gracias.

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